Vermelho.



Fotografia: Diane Arbus
Às vezes eu te espero sozinha na sacada, fumo meu cigarro, e só quero descansar um pouco, ver as pessoas passarem, despercebidas, com suas dores, tristezas, melancolias. Tento me apoderar um pouco dessas vidas, sentir o gosto de ser outro alguém. Não precisar saber quem, nem quando, nem onde, ser ali mesmo, só de passagem, poder desacreditar no espelho, ser reflexo do que for pra ser. 
Às vezes eu ainda espero cruzar com você nas esquinas escuras, ou nos becos sem saída, em qualquer hora bandida, nessa cidade, em qualquer tarde, só pra ver o mundo parar.
Imagino, vez em quando, te ver passar em baixo da minha sacada, parar e gritar que a vista é bonita e que eu deveria descer pra lhe acompanhar pela cidade, por essa imensidão que é o mundo, avisar que não tem hora pra chegar, que é pra ir descalço, pra caminhar sem fim. Que é pra eu abrir um sorriso, bonito, dizer que é assim que se sai de qualquer lugar.
Te espero pra contar uma porção de coisas, pra te mostrar o meu roteiro, que eu sei que você vai mudar, eu gosto desse seu jeito. Te espero chegar, pra me levar pra qualquer canto, pra gente ver o sol se pôr, vermelho. Pra aquecer meu peito, de novo.
Você pode me falar da chuva, dos ventos, do mar, das horas que passam, me falar do céu que cobria a cidade de azul, mas morreu devagar e agora sangra. Me falar das coisas, da vida, dos sonhos. Preparar um café, e depois sair pra tomar sorvete. Sem rumo.
O cigarro já queima meus dedos, jogo fora e você ainda não vem. A rua continua cheia de pessoas e de uma ausência terrível. O que será dessa tarde? Uma angústia domina este meu questionamento. Fico na ponta dos pés pra te procurar na imensidão que há diante dos meus olhos. Em algum ponto você está. Mas me falta. Falta cores na vida.  Falta abraços. Falta um sorriso.
Falta você comigo.
Só não falta amor rasgando meu peito. Só não me falta um céu vermelho. Gotejando solidão.


"As vezes eu só quero descansar
Desacreditar no espelho
Ver o sol se pôr vermelho
Acho graça
Que isso sempre foi assim
Mas você me chama pro mundo
E me faz sair do fundo de onde eu tô de novo"
Vermelho - Marcelo Camelo.

4 comentários:

Stella Rodrigues disse...

Que triste :/ quando a gente ta em um momento melancolico que saem as mais belas palavras, enchi o olho d'agua :/ de verdade. lembro de quando sentia o sentimento de flata, e é bem ruim.

Tiago Fagner disse...

Parabéns moça! MUITO BOM o seu texto.Gostei da ambientação e dos sentimentos, um vermelho forte e marcante.

Nicole Freixo disse...

Tão triste, mas tão bonito.
Tão verdadeiro, quase um pedido de socorro.
Deu um aperto no coração, sabe? é que as vezes a gente se encontra por essas linhas tão vermelhas, gotejantes de amor, verdade e solidão.

bjs

Iana disse...

ME APAIXONEI pelo seu texto. É fantástico. Tão belo, tão triste. Parabéns!