A assassina

Então ela entrou pela porta que estava escancarada, o quarto escuro e vazio parecia gigante,pela janela também aberta,entrava um vento frio que balançavam as cortinas fortemente e a luz da lua iluminava apenas uma parte onde se encontrava uma cadeira de couro velho.Ela andava na ponta dos pés, tudo ali lhe era estranho,apesar de mais conhecido ser impossível, seus pensamentos confundiam-se... “ O que eu fiz?, será que vão me descobrir?”,estava aflita,o suor escorria pelo seu rosto,estava pálida, deixou-se cair na cama sem entender nada!
Ter matado alguém parecia-lhe algo impossível, não passava pela sua cabeça ter feito algo como isso...mas por um minuto ela riu,sorria e gritava como se uma felicidade lhe invadisse a alma e chorava feito criança,der repente um tremor convulsivo agitou-lhe os membros: “Como pude me esquecer das jóias? Elas ainda estão na bolsa...” “Mas onde está a bolsa? Meu Deus...” Com uma expressão de pânico, lembrou-se de ter deixado a bolsa em cima de algum lugar... “Mas que lugar?Será que foi lá? Não....”.
Atordoada levantou-se da cama e revirou todo o quarto,desceu por vezes a escada que dava a sala e só na ultima vez foi que avistou a pequena bolsa sobre a mesa de canto,próxima a porta de entrada. “Estou ficando louca, como pude deixar isto aqui, estou querendo ser descoberta só pode”. Após alguns minutos de pânico, voltou ao quarto e tornou deitar na cama, estava mais calma e acabou dormindo.
Seus sonhos eram perturbadores,sonhava caindo do alto de uma ponte, a ponte onde ela teria jogado o corpo da velha Agatha, e a mesma cena se repetia diversas vezes,ela caia no rio mas não estava morta,e dentro da água alguém a perseguia com um facão ensangüentado.Em um momento de medo,estremeceu da cabeça aos pés, abriu os olhos e correu para o espelho, estava toda suja de sangue, havia se esquecido de trocar de roupa,havia sangue na manga da blusa, alguns pingos na calça jeans e no ténis.Tirou todas as peças ao mesmo tempo, repetindo: “Estou ficando louca,louca, só pode, estou ficando louca Meu Deus...”
“Onde esconder as roupas, onde?”- Apavorada andava de um lado pro outro no quarto, o dia estava amanhecendo, logo as pessoas da vizinhança acordariam. Correu até a lavanderia, esfregou a roupa até ter a certeza de estar totalmente limpa,revirou a bolsa,olhou mais de 20 vezes sua imagem no espelho, estava tão atordoada que tinha medo de estar se esquecendo de algum detalhe, algum detalhe importante. “Claro...claro que vão me achar,vão descobrir tudo, estou ferrada, ferrada, ô Meu Deus, porque, porque eu fiz isso...”-repetia essas palavras se remexendo na cama, até adormecer novamente,mesmo dormindo se assustava com o barulho da vizinhança, até pegar no sono pesado.O dia amanheceu...

-Moça, você está bem?Você ta ai? Disseram-me que a viram subir e parecia estar machucada, moça, abra a porta, você ta bem?- Batia fortemente na porta a criada do cortiço, uma velha de uns 62 anos,extremamente preocupada com todos os que ali moravam.

Ela ainda dormia e se virava o tempo inteiro na cama... “ o que fiz? Como pude chegar até esse ponto?”- Abra a porta moça, abra!!Você ta ai?Ta bem?!- “O que eu fiz...” Acordou assustada com tanto barulho, sentou na cama ainda sem consegui juntar o quebra-cabeça, as idéias estavam todas embaralhadas, estava quase tudo escuro, levantou-se e abriu a porta...

-Moça, pelo amor de Deus, o que houve? Você dormiu o dia inteiro e ainda me disseram que a viram chegar muito tarde na noite passada e parecia machucada.

Ela ainda não conseguia compreender o que a criada falava,então viu sua imagem reflectida no espelho, quem é aquela? Perguntava a si mesma, “não, não sou eu...” sua imagem era a mesma, mas ela envergava sua alma, uma alma suja, impura... Deixou-se cair no chão! Estava fraca e ferida, percorrera as ruas durante toda à noite.

“As jóias, as jóias, por favor, não, não conte pra ninguém, não deixem que me descubram, eu não fiz por querer”

-Que jóias moça?Você não está bem...

“ As jóias, na bolsa, aquela bolsa...” Apontou pra bolsa em cima da cama, toda revirada.

A criada a sentou na cadeira e foi pegar a bolsa...

-Não a nada aqui querida, você deve ter se enganado.

“Me roubaram...me roubaram, a velha!Foi ela, ela não morreu, eu não consegui a matar, ela veio atrás de mim, veio!” Ela suava frio,gritava histérica. “ Ela está aqui, ela está aqui!”

-Você não tá bem minha querida, eu vou chamar um médico!

“Não, não me deixe aqui, a velha, ela tá aqui, ela veio se vingar de mim...ás jóias, por favor”

A criada já não a escutava, deixou a moça na cadeira e foi chamar ajuda na casa dos vizinhos.

“Você, o que você quer de mim? Você já não está com as jóias?” gritava a moça, vendo a imagem da velha a olhar para ela fixamente, sem dizer uma só palavra.

Apavorada a moça corria pelo quarto, gritava, chorava e ria, uma mistura de sentimentos e sensações tomavam conta dela,o que havia acontecido? Ninguém nunca soube explicar...

“Não encoste em mim, entendeu?, eu te odeio, eram minhas, minhas as jóias, você me persegue, desde aquele dia, você quer tudo que é meu...eu te matei, você não existe, há,há,há!”

Ela correu pra janela, segurava a bolsa e gritava pra imagem intacta da suposta velha. “Você não vai me pegar, há,há,há, não vai, nunca mais...nunca!”

Se jogou pela janela...35 metros de altura, um dia frio como qualquer outro, uma vida, uma doença,uma alma atormentada, uma pessoa infeliz... ninguém nunca compreendeu, os seres humanos são assim, enigmáticos em um turbilhão de sensações.

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